Apresentadora é infectada por bactéria com poder de cegar; conheça a celulite ocular
Apresentadora Marcelly Abreu, de 39 anos, foi diagnosticada com celulite ocular em Santos (SP) Arquivo Pessoal A apresentadora Marcelly Abreu, de 39 anos, foi d...

Apresentadora Marcelly Abreu, de 39 anos, foi diagnosticada com celulite ocular em Santos (SP) Arquivo Pessoal A apresentadora Marcelly Abreu, de 39 anos, foi diagnosticada com celulite ocular em Santos, no litoral de São Paulo (veja acima). O g1 conversou com oftalmologistas que explicaram se tratar de uma infecção bacteriana grave na região dos olhos que pode cegar e até oferecer risco de morte. Marcelly contou à equipe de reportagem que os sintomas começaram na segunda-feira (6), mas ela acreditava se tratar de uma reação alérgica a camarão. "Meu olho começou a inchar muito e doer", explicou a apresentadora. ✅ Clique aqui para seguir o novo canal do g1 Santos no WhatsApp Como é possível ver nas imagens, o olho direito inchou cada vez mais com o passar dos dias e chegou a ficar completamente fechado na quarta-feira (8), quando Marcelly decidiu buscar atendimento médico em um hospital e iniciou o tratamento com antibiótico. Em seguida, a apresentadora procurou uma clínica oftalmológica, onde recebeu a prescrição de mais remédios e uma pomada. "Eu postei [nas redes sociais] e as clínicas [oftalmológicas] todas me chamando, falando que é grave para eu correr. Loucura total", explicou a apresentadora que tem mais de 200 mil seguidores. Ela acrescentou ter recebido dezenas de mensagens de pessoas com o mesmo diagnóstico. Veja os vídeos que estão em alta no g1 O filho dela, de 9 anos, também teve um inchaço em um dos olhos há aproximadamente 15 dias. "Achei que era um episódio avulso porque coincidentemente ele bateu a cabeça no mesmo dia, jogando bola", afirmou Marcelly. 🔍Os oftalmologistas afirmaram ao g1 que a celulite ocular não é contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de pessoa para pessoa. Na verdade, a condição é uma complicação secundária de infecções locais, como sinusite, espinha na pele, picadas de inseto, abscesso dental ou até de traumas com contaminação bacteriana na região dos olhos (saiba mais abaixo). Por meio de nota, a Secretaria de Saúde de Santos informou que casos de celulite ocular não são de notificação obrigatória. Apesar disso, a pasta informou que também não foram relatados surtos até o momento. Apresentadora Marcelly Abreu, de 39 anos, foi diagnosticada com celulite ocular em Santos (SP) Arquivo Pessoal Uma das pessoas que procuraram a apresentadora para relatar também ter sido diagnosticada com celulite ocular foi a analista de marketing, Janaina Roberta de Araújo Mulinario, de 32 anos. Ela contou à equipe de reportagem que o tipo dela é chamado de orbitária, um dos tipos mais graves da infecção. Os primeiros sintomas surgiram no dia 19 de julho. "Começou com um carocinho [no olho]. Achei que era uma espinha, segui vida normal [...]. Passei até um secativo de espinha, mas eu vi que não passou", explicou a analista que passou a acreditar se tratar de um terçol. Quatro dias depois, Janaina não conseguia mais abrir o olho por conta do inchaço. Ela procurou atendimento médico em um pronto-socorro e foi até um oftalmologista, que a encaminhou para internação. Analista de marketing, Janaina Roberta de Araújo Mulinario, de 32 anos, ficou internada após ser diagnosticada com celulite ocular Arquivo Pessoal A analista contou que recebeu alta médica após ficar cinco dias internada. De acordo com ela, o olho demorou mais de um mês para desinchar, sendo que a textura ainda não voltou ao normal. "Dói bastante. É uma dor interna, por dentro do olho. Conforme o olho mexe, dói", explicou Janaina. "O meu rosto começou a inchar junto com o olho", lembrou ela. Celulite ocular O que é? O professor universitário de oftalmologia e diretor do Hospital Visão Laser, Guilherme Colombo Barboza, afirmou que a celulite ocular é uma infecção causada por bactérias que atingem a região dos olhos. De acordo com ele, a condição pode se apresentar de duas formas: Celulite pré-septal: mais superficial, comprometendo apenas a pele e os tecidos externos das pálpebras. Celulite orbitária (pós-septal): mais profunda, atingindo estruturas internas da órbita -- onde ficam o globo ocular, músculos, nervos e vasos sanguíneos. Ainda segundo Colombo, o nome vem do septo orbitário, uma fina membrana que funciona como uma barreira natural entre a parte externa da pálpebra e o interior da órbita. Quando a infecção ultrapassa essa barreira, torna-se pós-septal e os riscos aumentam. "Se não for tratada rapidamente, a forma orbitária pode causar complicações sérias, inclusive risco de cegueira ou disseminação da infecção para o cérebro", afirmou o especialista. Como ela se manifesta? O professor explicou que os principais sintomas incluem dor, inchaço, vermelhidão e dificuldade para abrir ou mover os olhos. Colombo afirmou que, em casos mais graves, o paciente pode ficar com a visão embaçada e até mesmo perder a visão. Réplica da estrutura do olho humano Aurélio Sal/EPTV Quais são as principais causas? O doutor em oftalmologia pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e responsável técnico da Clínica Oftalmologia Especializada Ipanema, Gustavo Bonfadini, afirmou que as bactérias frequentemente envolvidas são as das vias respiratórias, como Staphylococcus aureus, Streptococcus pneumoniae e Haemophilus influenzae. "Ela [celulite ocular] é, na verdade, uma complicação secundária de infecções locais (como sinusite, espinha na pele, furúnculo ou abscesso dental) ou de traumas com contaminação bacteriana na região dos olhos", explicou o especialista. O doutor destacou que dados da Academia Americana de Oftalmologia apontaram que as internações por celulite orbitária têm maior incidência em crianças e adolescentes, principalmente após quadros respiratórios mal resolvidos. Quais são os riscos? De acordo com Bonfadini, a infecção do tipo orbitária pode se espalhar rapidamente, causando lesões em partes dos olhos que podem resultar em perda visual irreversível ou até risco de morte. "Estudos recentes apontam que, em centros de referência, até 11% dos casos de celulite orbitária evoluem com comprometimento visual significativo quando há atraso no tratamento. Por isso, é considerada uma emergência médica e oftalmológica", destacou o profissional. Quais são os tipos de tratamento? O oftalmologista afirmou que depende da gravidade e da profundidade da infecção: Celulite pré-septal: costuma ser tratada com antibióticos orais de amplo espectro, acompanhamento clínico rigoroso e, em alguns casos, compressas mornas. Celulite orbitária: requer internação hospitalar, uso de antibióticos intravenosos e, se houver abscesso, drenagem cirúrgica. Ainda segundo o especialista, o acompanhamento com oftalmologista e otorrinolaringologista é fundamental, pois muitos casos se originam de sinusites não tratadas adequadamente. Em alguns pacientes, ele afirmou que exames de imagem são essenciais para avaliar a extensão da infecção. Sinusite Arte g1/Wagner Magalhães Há uma explicação para o possível aumento de casos? Colombo ressaltou que a celulite ocular não é contagiosa, ou seja, não pode ser transmitida de pessoa para pessoa. Bonfadini afirmou que estudos do Ministério da Saúde e da Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO) já indicaram que períodos de alta sazonalidade de infecções respiratórias estão associados ao aumento de quadros de celulite ocular em crianças e adultos jovens. "Mudanças climáticas e aumento de poluição também podem contribuir para agravar processos inflamatórios das vias aéreas superiores, facilitando essas complicações", afirmou o oftalmologista. Colombo acrescentou que alguns casos inicialmente suspeitos de celulite ocular podem, na verdade, corresponder a outras doenças com sintomas semelhantes, como terçol, calázio ou até certos tipos de conjuntivite. "Nesses casos, é fundamental realizar um diagnóstico diferencial cuidadoso para evitar tratamentos desnecessários ou atrasos na abordagem correta", finalizou o profissional. VÍDEOS: g1 em 1 minuto Santos