Com 'supertato', estudante surdocego faz cursos de massoterapia em Libras tátil no interior de SP
Com 'supertato', estudante surdocego de 48 anos faz curso com aulas em Libras tátil As mãos de Renato Principessa da Costa, de 48 anos, encontram-se diariamen...

Com 'supertato', estudante surdocego de 48 anos faz curso com aulas em Libras tátil As mãos de Renato Principessa da Costa, de 48 anos, encontram-se diariamente com as da guia-intérprete Flávia Marcela Lima, de 37, em uma sala de aula de Piracicaba (SP), durante o curso técnico de massoterapia. No entanto, não são toques de massagens, trata-se de uma conversa. O estudante é surdocego e se comunica por meio de língua de sinais tátil, adaptação da Língua Brasileira de Sinais (Libras) utilizada por pessoas que têm perda parcial ou total de visão e audição. Funciona assim: a guia-intérprete traduz a fala dos professores e colegas em libras sob a palma da mão de Renato, e ele entende com o tato, que é mais apurado. “É uma atividade que tenho contato com pessoas e me dedico com o tato. Tinha medo de me dedicar a um trabalho formal e acabar colocando a minha vida em risco por não enxergar e escutar”, afirma Renato. Renato e Flávia durante aula no Senac de Piracicaba Yasmin Moscoski/g1 Renato é surdo desde o nascimento. Aprendeu a se comunicar por libras ainda na infância, com apoio do pai. Mudou-se de Osasco (SP) para Piracicaba (SP), há cerca de 10 anos, após falecimento do pai. Passou a morar com a tia e, de dois anos para cá, perdeu 98% da visão em razão de uma doença rara, a retinose pigmentar. ✅ Siga o g1 Piracicaba no Instagram No entanto, não deixou de estudar. Pelo contrário. Faz do estudo uma motivação para se manter ativo. Conheceu o Senac por acaso, ao descobrir que a instituição ficava perto dos locais que frequentava. O centro de estudos, que conta com outros alunos com deficiência, dispõe de estrutura acessível, como pisos táteis, banheiros adaptados, materiais em braile, suporte pedagógico e a disponibilidade de guia-intérprete. Esses serviços facilitaram a inclusão de Renato, informou o estudante. De 2022 para cá, Renato fez cinco cursos livres: massagem relaxante, massagem expressa, massagem simples, aromaterapia e shiatsu, técnica de massagem terapêutica. Há dois meses, iniciou o curso técnico em massoterapia. Renato, aluno do curso técnico em massoterapia no Senac de Piracicaba Yasmin Moscoski/g1 Estudo Flávia informou que uma das maiores dificuldades dela, enquanto guia-intérprete, é comunicar sobre termos técnicos e científicos específicos do curso por meio de libras tátil. “A gente tem adaptado o curso para ele, porque tem muita teoria e ele entende mais na prática [...] e tem muitos termos que não existem e precisamos criar sinais para comunicar sobre eles”, informa a guia-intérprete. No entanto, as bagagens de cursos anteriores de Renato facilitam o processo. Além disso, aulas práticas ou com materiais em 3D, como o boneco de anatomia, facilitam os estudos de Renato. Em casa, ele realiza desenhos em relevo com barbante, fita adesiva, papel e lupa — veja abaixo um exemplo sobre a aula de sistema circulatório. Desenho em relevo feito por Renato Arquivo pessoal Aplicação O estudante aplica as técnicas de massoterapia durante atendimentos pontuais, e com o auxílio da tia, em eventos realizados pela Associação de Surdos de Piracicaba (Assupira). Ele mede a quantidade de gotas de óleo e outros itens utilizados na massagem com o tato, que é mais apurado por conta da perda da visão e audição. No entanto, não faz disso a fonte de renda, mas um modo de manter-se ativo, afirmou. Aula de massoterapia no Senac de Piracicaba (SP) Yasmin Moscoski/g1 Surdocegos em Piracicaba A prefeitura de Piracicaba não tem dados de quantas pessoas surdocegas residem na cidade. Já a Associação de Surdos de Piracicaba (Assupira) informou que uma pessoa não precisa ser totalmente cega e surda para ser considerada uma pessoa surdocega e que há dificuldade em levantar esse cenário. “É um desafio para a área desmistificar essa condição e criar mecanismos de pesquisa para identificação dessas pessoas. Muitas vezes são identificadas como pessoa com deficiência múltipla e ainda hoje percebemos que existem pessoas cegas com alguma deficiência auditiva ou pessoas surdas com alguma deficiência visual que não se identificam como pessoas surdocegas”, afirma a Assupira. Segundo a Assupira, o principal desafio da entidade tem sido a falta de guia-intérpretes para acompanhar os participantes nas atividades. 3° Assupira & Empreendedorismo em Piracicaba Diego Soares/Assupira VÍDEOS: tudo sobre Piracicaba e região