Diagnosticada com câncer de mama duas vezes, moradora de Campinas usa dança para lidar com tratamento paliativo

Há oito anos, a pedagoga Keyla Ferrari, de 49 anos, teve a vida transformada. Em 2017, ela foi diagnosticada com câncer de mama. Venceu a primeira batalha em ...

Diagnosticada com câncer de mama duas vezes, moradora de Campinas usa dança para lidar com tratamento paliativo
Diagnosticada com câncer de mama duas vezes, moradora de Campinas usa dança para lidar com tratamento paliativo (Foto: Reprodução)

Há oito anos, a pedagoga Keyla Ferrari, de 49 anos, teve a vida transformada. Em 2017, ela foi diagnosticada com câncer de mama. Venceu a primeira batalha em 2018, mas em 2023 recebeu um novo diagnóstico. Atualmente em tratamento paliativo, mostra que é possível viver com significado mesmo diante dos desafios. No caso de Keyla, o tratamento não tem perspectiva de cura, mas busca controlar os efeitos da doença e proporcionar melhor qualidade de vida. O acompanhamento envolve aplicações, comprimidos e exames de sangue. Ainda assim, a professora relata que sente bastante cansaço. Moradora de Campinas (SP) há 26 anos, a artista destaca que viver com câncer não significa estar à beira do fim. “A gente nunca vai tocar o sino da ‘vitória’, mas pode viver uma vida boa em tratamento.” 📲 Participe do canal do g1 Campinas no WhatsApp Para ela, tratamento paliativo não é só sobre cuidados finais, mas sobre qualidade de vida. “Quando escutamos tratamento paliativo, ficamos chocados. Mas depois percebemos que somos muitas vivendo com o diagnóstico”, diz. Mãe de Leonardo e Francisco, ela afirma que pequenos prazeres, como tomar café e ver o pôr do sol, tornam o tratamento mais leve. “Nós temos uma doença que não se resume à vida. Nós temos uma vida muito maior do que a doença”, fala. Keyla Ferrari nasceu em Salto (SP), tem quatro irmãs e somente uma não teve a doença. Ela explica que nenhuma mulher da família possui mutação nos genes BRCA1 e BRCA2 - que aumentam as chances de uma pessoa desenvolver câncer -, mas quase todas tiveram câncer de mama. 'O resgate da bailarina' Keyla Ferrari Lopes, pedagoga doutora em atividade motora adaptada Arquivo pessoal Filha de uma mulher que enfrentou câncer de mama nos anos 1980, Keyla cresceu vendo de perto os impactos físicos e emocionais da doença. “Minha mãe usava umas próteses de pano, que ela punha e tirava, então eu acompanhei isso quando pequena”, relembra. Na primeira vez que descobriu, o tumor já estava sólido. Sentiu o nódulo no banho e procurou o médico no dia seguinte. Na segunda vez, o câncer retornou na cicatriz, com algumas metástases no pulmão, sem ela perceber. "Foi um período de luto porque daí eu entendi que nunca ia tocar o sino da última quimioterapia e que eu vou ter que tratar o resto da vida. Foi um momento também de muita descoberta", relata. Formada em pedagogia, com mestrado e doutorado em educação física adaptada e Língua Brasileira de Sinais (Libras), Keyla atua há mais de 25 anos com inclusão. Seu projeto atende pessoas com deficiência auditiva, visual, motora e intelectual. O câncer, segundo ela, trouxe de volta algo que havia deixado de lado. “É isso que o câncer me trouxe de volta, foi o resgate da bailarina”. Dos palcos à educação especial A paixão por Libras começou cedo. Aos seis anos, Keyla assistiu à novela “Sol de Verão”, da TV Globo, e se encantou com o personagem surdo de Tony Ramos. “Eu falei, nossa, eu quero fazer isso. Que bonito”, relembra. A trajetória profissional parecia seguir pela dança. Keyla foi aprovada em uma universidade internacional e chegou a dançar fora do país. Aos 17 anos, enquanto ajudava em aulas de expressão corporal, conheceu um aluno surdo e a irmã dele, com deficiência visual. A experiência decidiu a escolha pela pedagogia. Keyla é autora de seis livros infantis e três acadêmicos sobre dança inclusiva. Há mais de 25 anos, atua em Campinas com o projeto Cia de Dança Humaniza, iniciado em Itu (SP). O projeto, premiado pelo Programa de Ação Cultural (PROAC), é mantido voluntariamente. “É o trabalho que eu faço por amor”, afirma. Mesmo com o tratamento quimioterápico, ela conta que continuou dando aulas. Ensinando com o coração Keyla utiliza a dança como forma de inclusão e para lidar com tratamentos paliativos Estevão Mamédio/g1 Para Keyla, a dança é terapêutica. No palco, ela compartilha momentos com pessoas cegas, com baixa visão e com surdo-cegueira. “Aprendo muito com as histórias de vida deles, com a garra que têm”, se emociona. A vivência com a doença e com os alunos trouxe uma nova perspectiva de vida. “Toda doença faz a gente rever prioridades, fazer novas escolhas, olhar pra dentro… Eu só comecei a refletir depois de dois diagnósticos. Não precisava ficar doente para ter esse processo de reflexão”, conta. Keyla Ferrari e sua aluna Cláudia em espetáculo do Cia de Dança Humaniza Redes sociais 'Outubro Rosa é todo dia' Keyla alerta para lacunas nas políticas públicas para mulheres em tratamento paliativo “que trabalham, têm uma vida útil e sustentam o seu lar. Não é simplesmente vamos sair da aposentadoria por invalidez. Veja, eu não tô inválida, mas eu preciso de cuidados”, diz. Segundo a bailarina, o tratamento exige cuidados médicos, como fisioterapia, dermatologia, odontologia e psicologia. Mas nem todas as mulheres conseguem arcar com os custos ou acessar associações que oferecem apoio gratuito. “Os médicos falam atividade física, tem que fazer atividade física, e tem mesmo. E quem não consegue pagar? Ou não consegue ir até o local? Então, a gente precisa pensar um pouco mais. Tá na hora da gente acordar e discutir outras questões. Não é só a prevenção”, diz. Para ela, o Outubro Rosa “não é só o mês de outubro, é todos os meses, todos os dias. Tem mulheres que nunca vão tocar o sino”, se sensibiliza. *Estagiária sob supervisão de Gabriella Ramos. DIU não aumenta em 40% a chance de câncer de mama VÍDEOS: tudo sobre Campinas e região Veja mais notícias da região no g1 Campinas